6 Oct 2014

Mea culpa sobre o iminente fim do mundo

Nunca subestimar o instinto de sobrevivência, mesmo perante as maiores evidências.

Perguntar não ofende

O homem da "situação explosiva" em janeiro de 2010 alertou ontem para os "riscos de implosão" do sistema político. O que existe em comum nas duas vezes que Cavaco Silva recorreu à pirotecnia para ilustrar os seus discursos?



16 Oct 2013

Alternativas

A pergunta "qual é a alternativa?" tem sido usada desde o início para justificar a irracionalidade das medidas que nos têm sido impostas. Mas não é por isso que deixa de ser uma pergunta útil e válida. Acho que todos concordamos que estamos num contexto em que as opções políticas são determinadas pelos nossos financiadores. Temos a opção de cumprirmos ou deixarmos de receber financiamento, o que, num contexto em que não temos acesso aos mercados de dívida, implicaria ou uma reestruturação agressiva e/ou um défice zero já (dentro do contexto do euro, sim, mas creio que nem vale a pena discutir essa, para mim, não alternativa).

Tudo isto parece lógico. Mas a lógica, infelizmente, parece ter sido a primeira vítima da austeridade neste país. Se dúvidas fundamentadas já existiam antes da aplicação dos programas, o rotundo falhanço destes transformam essas dúvidas em certezas. O nível de austeridade aplicado sucessivamente às contas públicas tem tido um efeito risível sobre o défice mas bem sonoro sobre a actividade económica. Ora, não é por acaso que a dívida se mede em rácio com o PIB. Se provocamos recessões que, pela sua natureza, têm quase características de depressão, estamos a não resolver o problema do défice e a agravar em muito o problema da sustentabilidade da dívida.

Bom, se não funciona, porquê insistir nisto? Nem devedores, nem credores, têm interesse em que a dívida portuguesa seja cada dia mais insustentável. O problema é que a lógica não vale de muito na presença da crença. E quem acredita que o problema português (e do Sul da Europa) é uma questão moral, de insuficiência de carácter, só pode pensar que o sofrimento desnecessário não só é justo, como a única forma de nos redimirmos. Mas o verdadeiro drama não é esta ser a visão dos nossos credores. É o nosso governo - e muitas das nossas "elites" - acreditarem na mesma coisa. Ou seja, quando o país mais precisava de quem o defendesse de uma visão errada, escolhemos quem respondia "esfola" ao "mata" dos nossos credores.

"Não temos alternativa". Temos, claro. Muitas, até. A maior parte delas com mais custos do que o que estamos a fazer actualmente. Mas defender publicamente que este não pode ser o caminho, com a força dos dados a prová-lo, não devia ser assim tão difícil. O problema é que ao insistirmos em reforçar um caminho insensato, em continuar a ir como ou além de uma troika com laivos de fanatismo, só damos força a quem quer substituir a falta de senso destes com a falta de senso dos próximos.

16 Sept 2013

Credibilidade

Vejo por aí spin a rodos sobre como a nossa credibilidade foi afectada pela crise política de julho, tentando colocar totalmente o ónus na suposta irresponsabilidade do nosso actual vice-pm. Ora, este spin é interessante. Vejamos o que deve ter dado imensa credibilidade:

1) Apoiar entusiasticamente e inclusive ir além de um programa de ajustamento que estava errado na análise da crise e nas soluções que propunha.

2) Ainda assim, conseguir falhar redondamente todas as metas definidas nesse programa em termos de execução orçamental.

Nem eu, nem ninguém, sabe o que pensam os investidores em dívida portuguesa. Mas colocados perante a insustentabilidade da dívida caso não cumpramos o programa ou a mesma insustentabilidade da dívida caso o cumpramos, só resta mesmo a esperança na mudança de atitude das instituições europeias. 

Insistir em cumprir um programa cuja ineficácia está mais do que comprovada, e tentar vender isso como a única coisa responsável que podemos fazer, em nome de uma credibilidade dos mercados que ninguém consegue identificar, é simplesmente fazer-nos a todos de estúpidos. Faz mesmo falta alguém que diga basta. De preferência, de forma irrevogável.

Taxonomia

Ontem, numa conversa sobre relações, a certa altura dizem-me: "sim, mas tu és dos outros". E agora, o que faço com esta classificação?

10 Sept 2013

Nunca paramos de dizer adeus

Porque enquanto dizemos adeus não é o fim, pois não? Quase 13 anos, um terço da minha vida, ou bem mais, por serem estes, por serem os últimos, e ainda te procuro. Todos os dias. Em coisas como a preocupação crescente com os teus pais ou o puzzle cada vez mais interessante que é viver o crescimento da Mê.

Mas também noutras coisas. No usar cada vez mais as expressões que eram tão tuas (e às vezes me irritavam tanto). Em tentar ver nas linhas que me cruzam a cara as mesmas que cruzavam a tua. Falando comigo como se fosse contigo, como se ainda me pudesses dizer o que achas do que estou a fazer, com a dose certa de ternura e firmeza que sempre me deslumbrou. Afinal, o amor nunca nos cegou, não é?

Claro que cegou, mãe. E ainda bem, se for isso que me permita nunca parar de te dizer adeus.  

6 Sept 2013

Cantando e rindo de quê?



Encontrei no twitter este gráfico, na conta do jornalista financeiro italiano @fgoria (uma conta obrigatoria para quem se interessa por mercados e Europa). A contínua redução dos indicadores de risco sistémico na zona euro tem-se sentido desde 2012, primeiro com as LTRO e depois, de forma mais pronunciada, com o discurso do faremos o que for necessário e subsequente criação das OMT (que, até hoje, nunca foram activadas). Sei bem que tenho tendência a ser Cassandra neste tema, mas a calma que vou vendo por aí perturba-me cada vez mais. Nenhum dos problemas estruturais da zona euro está resolvido e os sucessivos paliativos concedido à Grécia e a Portugal, não contribuem em nada (pelo contrário, pioram) a sustentabilidade da dívida pública. 

Ontem, na conferência de imprensa do BCE, Draghi foi claro ao afirmar que a instituição a que preside não podia monetarizar défices nem participar em qualquer perdão oficial de dívida pública. Falha minha, certamente, mas não consigo entender como vamos sair disto sem estas duas opções e, logo, a razão de toda esta calma, face ao problema europeu, que vou vendo por aí.